Organizadores: Professor Dr. Valdênio Freitas Meneses (UFCG) e Professora Dra. Leila Maria Pessôa (UFRJ)
O tema do dossiê busca atrair artigos científicos em torno de expedições científicas, inventários, pestes e epidemias buscando evidenciar processos sociais biológicos e históricos do mundo rural brasileiro. Em torno desses temas, buscamos problematizar ausências e presenças institucionais, formas narrativas de produção de conhecimento e os desdobramentos que envolvam a relação Estado, população, fauna, conhecimento científico e poder, ou seja, um eixo de hierarquias e desigualdades não somente do mundo rural, mas da sociedade brasileira. Sobre as expedições há o destaque historiográfico de esforços empreendidos pela Coroa Portuguesa em se modernizar: exemplo disso é a viagem filosófica empreendida por Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792) – tida como Primeira Expedição Oficial ao Brasil – bem como as demais expedições que continuaram a acontecer nos séculos XVIII, XIX, XX e XXI no intuito de conhecer aspectos relevantes da fauna, da flora e da população humana, do problema das estiagens e secas nos sertões do “Norte” do Brasil, desde aquelas realizadas na engenharia do Império (Instituto Histórico Geográfico Brasileiro-IHGB) até as entradas do Instituto de Obras de Combate as Secas (IFOCS) e Fundação Oswaldo Cruz, fundamentais para o debate tanto de grandes obras hídricas como da saúde pública .  O acervo documental – espécimes preservados em museus, livros, diários, fotografias dentre outros – dessas expedições é material vasto para pesquisas que articulem processos sociais que envolvem com as ondas de zoonoses tais como peste bubônica, febre amarela, cólera dentre outras. Aspectos historicamente marcantes são a incidência dessas doenças relacionadas a populações (retirantes das secas) com restrições de acesso a água potável e a terra para produção de alimentos. Não menos importante destacar a religiosidade de santos “populares” e cemitérios – pessoas e locais “milagreiros” - que marcam moralidades e memórias em torno de tragédias sanitárias. Portanto, a proposta deste dossiê da Revista Raízes é concentrar reflexões de estudos que levem em conta as epidemias e desastres naturais que acompanham crises sociais e econômicas. Entre elas há causalidades recíprocas na fronteira sociedade/natureza: epidemias antecedem ou sucedem causas e consequências de processos de mudança social, por vezes gradativos, por vezes abruptos, em que uma ordem social é transformada ou senão consolida tendências conservadoras. Essas são as chaves de análise que buscamos ao estudar expedições científicas, inventários, pestes e epidemias.