A “Coisa tá Preta” um estudo Antropológico e Linguístico sobre expressões racistas que circulam nas principais redes sociais.
Conteúdo do artigo principal
Resumo
Este artigo trata da permanência, na sociedade, do uso indevido de expressões racistas, especialmente nas redes sociais. Na maioria destas expressões, associa-se a cor preta a algo negativo; no seu oposto, têm-se uma associação do branco a algo mais positivo. Sabemos que a origem do nosso próprio idioma e dessas expressões são decorrentes da forte influência do período da escravidão. Diante dos fatos, esse trabalho tem como objetivo investigar como o uso e permanência de determinadas expressões preconceituosas, ainda hoje, contribuem para a permanência de estereótipos e discriminação. Para tanto, o corpus da pesquisa é constituído por expressões racistas em sua significação e origem, irrompidas nas redes sociais, como no X, Instagram e no Facebook. Do ponto de vista teórico-metodológico, utilizamos como base teórica a Análise do Discurso Francesa (ADF) – uma abordagem discursiva que passou por diferentes momentos de (des)construções, interrelacionando a linguagem e seus significados ao contexto sócio-histórico e ideológico em que ela é produzida. Os resultados apontam que a essas expressões, em especial dos enunciados “a coisa tá preta” e “se a coisa tá preta, a coisa tá boa”, continuam sendo usadas tanto como manutenção de ideologias negativas e valores semânticos relacionados a toda uma cultura discriminatória, como também subverte a uma perspectiva de inserção do negro e valores socioculturais afro-brasileiros. Trazer essa reflexão nos impulsiona tanto a pensar: como e por que, hodiernamente, ainda se faz uso de expressões e significados enraizados em nossa linguagem, bem como em sua emergência de retirada.
Detalhes do artigo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Referências
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. São Paulo: Editora Paz e Terra,13ª Ed, 2022.
BORGES, Maria Alice Guimarães. A compreensão da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 3, p. 25-32, set./dez. 2000. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-19652000000300003
BRASIL. Cartilha Palavras Racistas. Paratodos, Programa Sesc e Senac de Diversidade, novembro, 2020. Disponível em: https://fecomercio-rs.org.br/wp-content/uploads/2020/11/Cartilha-PalavrasRacistas.pdf. Acesso em: 03/05/2022.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo Demográfico, 2018.
CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, vol.1. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
CHOTI, Deise Maria Marques; BEHRENS, Marilda Aparecida. A utilização das redes e mídias sociais na formação continuada de professores aponta para um paradigma inovador? In: TORRES, Patrícia Lupion. Redes e mídias sociais. Curitiba: Appris, 2015.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2004
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/interdisciplinaridade-e-transdisciplinaridade/. Acesso em: 14 dez. 2024.
KELLNER, Douglas. Cultura da Mídia. Bauru: EDUSC, 2001
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
MUNANGA, Kabenguele. O Mundo e a Diversidade: questões em debate. Revista Estudos Avançados, n. 36, São Paulo, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2022.36105.008
OLIVEIRA, Priscila Patrícia Moura. Manual Interativo de utilização do Instagram como ferramenta pedagógica. 2020. 30 p. Produto Educacional (Mestrado Profissional) – Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Profissional e Tecnológica - Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba, 2020.
PÊCHEUX, Michel. FUCHS, Catherine. A Propósito da Análise Automática do Discurso: Atualização e Perspectivas. In GADET, F. HAK, T. (Org.). Por Uma Análise Automática do Discurso: Uma Introdução à Obra de Michel Pêcheux. 3ª Ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997, p. 176-177.
QUEIROZ OLNEY, Assis; KUMPEL, Vitor Frederico. Manual de Antropologia Jurídica. São Paulo: Saraiva, 2011.
REIS, V. A. Werner dos. Tripé fundador da análise do discurso: as interfaces de uma teoria de entremeios. Revista Inventário, n. 21, Salvador, Julho de 2018.